quarta-feira, 9 de maio de 2012

MARIA A MAE DO CRISTO EUCARISTICO

MARIA A MAE DO CRISTO EUCARISTICO


            Hoje vamos contemplar Maria, mas em uma perspectiva eucarística. Já o papa João Paulo II afirmava que se quisermos “redescobrir em toda a sua riqueza a relação entre a Igreja e a Eucaristia, não podemos esquecer Maria, mãe e modelo da Igreja... Com efeito, Maria pode nos guiar para o Santíssimo Sacramento por que tem uma profunda ligação com ele”.
            O evangelho na narração da última ceia não menciona Maria. Mas João Paulo II afirma: “Para além da sua participação no banquete eucarístico (última ceia), pode-se delinear a relação de Maria com a Eucaristia indiretamente a partir da sua atitude interior. Maria é mulher « eucarística » na totalidade da sua vida. A Igreja, vendo em Maria o seu modelo, é chamada a imitá-La também na sua relação com este mistério santíssimo.
            Mas, vejamos a ligação profunda entre Maria e a eucarística: Eucaristia significa doação, entrega. Jesus sabendo que ia voltar para o Pai deixa o memorial da sua presença em nosso meio. Fica conosco nas espécies do pão e do vinho.
            Pronunciando as palavras da instituição Jesus oferecia-se ao Pai em sacrifício pela humanidade aceitando a sorte do servo de Javé. É uma doação total pela humanidade não somente de cristo naquele momento, mas de toda a sua vida. Isto nos faz lembrar a apresentação do senhor no templo quando completou quarenta dias de nascido. Aqui já encontramos Maria que oferece seu Filho ao Pai (Lc 2, 22-27). Por isso, toda a vida de Jesus é uma ininterrupta oferenda ao Pai e aos homens: é uma vida eucarística.
             Nossa Senhora preparou o seu coração, como só ela o podia fazer para apresentar e entregar o seu Filho a Deus e oferecer-se juntamente com ele. Nessa preparação ela já oferecia o seu coração. Já fazia de sua vida uma eucaristia.
             Um dia um anjo visita uma virgem chamada Maria e lhe faz a proposta de ser a mãe do Filho de Deus. Proposta esta que ultrapassa todas as expectativas humanas. Nunca ninguém tinha sido abordado por um ser celestial para ser a mãe do próprio Filho de Deus. Este alguém é Maria.
            Toda a história do Antigo Testamento desde Abraão foi uma longa preparação para a chegada de Maria. Foram doze séculos de preparação para que no mundo surgisse aquela mulher. Maria é o fruto maduro da humanidade. Por isso Paulo vai dizer que na plenitude dos tempos Deus enviou o salvador. Podemos entender que a plenitude dos tempos se realiza em Maria. Por que Maria é a Imaculada, a toda pura e no final da história todos seremos imaculados. Isto significa dizer que o que se realizou em Maria um dia se realizará em todos nós (Ef 1).
            Na história da anunciação o anjo fez a proposta a Maria e esta respondeu: “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a sua palavra”. É João Paulo II que diz: “De certo modo, Maria praticou a sua fé eucarística ainda antes de ser instituída a Eucaristia, quando ofereceu o seu ventre virginal para a encarnação do Verbo de Deus. A Eucaristia, ao mesmo tempo em que evoca a paixão e a ressurreição, coloca-se no prolongamento da encarnação.
            E Maria, na anunciação, concebeu o Filho divino também na realidade física do corpo e do sangue, em certa medida antecipando n'Ela o que se realiza sacramentalmente em cada crente quando recebe, no sinal do pão e do vinho, o corpo e o sangue do Senhor. É preciso considerar toda a vida de Jesus enquanto ama, opera, reza, sofre e se imola partindo do instante em que desceu ao seu seio virginal até o momento da sua crucificação. Desde a concepção até a crucificação Jesus.
            Por isso Maria é a mãe da eucaristia. É a mãe de Jesus eucarístico. Não no sentido de que Maria o gere de novo na ação misteriosa do altar, esta missão é reservada ao sacerdote. Mas, por que é uma ação que se assemelha a sua concepção no seio virginal de Maria. Alem disso Jesus se torna presente na eucaristia com sua divindade e seu corpo glorioso, aquele corpo que Maria o deu na concepção.  
            Maria com o seu sim se doou não somente a Deus, mas a toda a humanidade. Ela viveu uma vida totalmente voltada para o seu Filho e para os homens. Existe, pois, uma profunda analogia entre o fiat pronunciado por Maria, em resposta às palavras do Anjo, e o amém que cada fiel pronuncia quando recebe o corpo do Senhor. A Maria foi-Lhe pedido para acreditar que Aquele que Ela concebia « por obra do Espírito Santo » era o « Filho de Deus » (cf. Lc 1, 30-35). Dando continuidade à fé da Virgem Santa, no mistério eucarístico é-nos pedido para crer que aquele mesmo Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria, Se torna presente nos sinais do pão e do vinho com todo o seu ser humano-divino”.
            Depois de contemplarmos o texto da anunciação e o da apresentação. Onde no primeiro texto Maria se entrega ao Senhor e no segundo ela entrega seu próprio Filho voltemos para os evangelhos e contemplemos Maria ao pé da cruz. Os textos já meditados têm uma intima ligação com o texto da paixão. Maria esteve ao lado de seu filho na cruz.
            Na quinta feira santa Jesus deu-se a humanidade em alimento oferecendo seu corpo e seu sangue. Corpo doado, sangue derramado. Sinal do sacrifício que aconteceria na sexta feira da paixão. O relato bíblico não menciona que Maria esteve no cenáculo, mas diz que Maria esteve ao pé da cruz. Maria não estava presente no sacrifício ritual, incruento como afirmava o Concílio de Trento, da ceia do Senhor, mas estava presente no sacrifício cruento do seu Filho. Ela vive a eucaristia.
            Viver o memorial da morte de Cristo na Eucaristia implica também receber continuamente este dom. Significa levar conosco – a exemplo de João – Aquela que sempre de novo nos é dada como Mãe. Significa ao mesmo tempo assumir o compromisso de nos conformarmos com Cristo, entrando na escola da Mãe e aceitando a sua companhia.
            Maria está presente, com a Igreja e como Mãe da Igreja, em cada uma das celebrações eucarísticas. Se Igreja e Eucaristia são um binômio indivisível, o mesmo é preciso afirmar do binômio Maria e Eucaristia. Por isso mesmo, desde a antiguidade é unânime nas Igrejas do Oriente e do Ocidente a recordação de Maria na celebração eucarística.  Junto a Jesus esta Maria, junto de cada Tabernáculo está também presente extasiada a Mãe do céu.
            Na Eucaristia, a Igreja une-se plenamente a Cristo e ao seu sacrifício, com o mesmo espírito de Maria. Tal verdade pode-se aprofundar relendo o Magnificat em perspectiva eucarística. De fato, como o cântico de Maria, também a Eucaristia é primariamente louvor e ação de graças. Quando exclama: « A minha alma glorifica ao Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador », Maria traz no seu ventre Jesus.
            Louva o Pai « por » Jesus, mas louva-O também « em » Jesus e « com » Jesus. É nisto precisamente que consiste a verdadeira « atitude eucarística ». Ao mesmo tempo Maria recorda as maravilhas operadas por Deus ao longo da história da salvação, segundo a promessa feita aos nossos pais (cf. Lc 1, 55), anunciando a maravilha mais sublime de todas: a encarnação redentora. Enfim, no Magnificat está presente a tensão escatológica da Eucaristia.
            Cada vez que o Filho de Deus Se torna presente entre nós na « pobreza » dos sinais sacramentais, pão e vinho, é lançado no mundo o germe daquela história nova, que verá os poderosos « derrubados dos seus tronos » e « exaltados os humildes » (cf. Lc 1, 52). Maria canta aquele « novo céu » e aquela « nova terra », cuja antecipação e em certa medida a « síntese » programática se encontram na Eucaristia. Se o Magnificat exprime a espiritualidade de Maria, nada melhor do que esta espiritualidade nos pode ajudar a viver o mistério eucarístico. Recebemos o dom da Eucaristia, para que a nossa vida, à semelhança da de Maria, seja toda ela um magnificat! 



terça-feira, 1 de maio de 2012

CONSAGRAÇÃO A NOSSA SENHORA (II)

CONSAGRAÇÃO A NOSSA SENHORA (II)
PARA A SUA MEDITAÇÃO NESTE MÊS DE MAIO
            Entre os imensos frutos de revigoração do fervor que a Efusão do Espírito Santo tem gerado entre nós, temos observado um que é especialíssimo por se referir à devoção a Nossa Senhora: o mesmo Espírito Santo que gerou Jesus no seio de Maria tem inspirado cada vez mais os batizados a assumir a filiação a esta Mãe Santíssima, que nos foi entregue por seu Filho ao pé da cruz. Nós a assumimos como Mãe e temos renascido espiritualmente dela.
            O centro da nossa vida cristã é Jesus. Por isso, com esta consagração nos entregamos a Jesus pelas mãos de Maria. Com esta entrega fazemos a renovação das promessas do nosso batismo. Na verdade o que fazemos com a consagração é prometer a Jesus viver as promessas do nosso batismo com Nossa Senhora.
             Pelo Batismo, renunciamos a Satanás e a compactuar com suas obras, renunciamos ao pecado e a fazer prevalecer a nós mesmos. Na entrega total a Maria, renovamos esta renúncia e ainda damos expressamente a Nosso Senhor, pelas mãos dela, o valor que Deus quiser dar às nossas ações e orações. Jesus se deu inteiramente a nós e o quis fazê-lo pelas mãos de Nossa Senhora, e agora nós devolvemos inteiramente a Ele também do mesmo modo: pelas mãos de Nossa Senhora.
            Um grande sinal desta entrega é o aumento significativo da prática tão antiga e nova da consagração total a Jesus Cristo pelas mãos de Maria, ensinada por São Luís Maria Grignion de Monfort. O que posso testemunhar acerca desta consagração, é que tem sido grande fonte de libertação interior e de conversão a Jesus Cristo.
             A consagração consiste em entregar-se inteiramente à Santíssima Virgem, a fim de, por ela, pertencer inteiramente a Jesus Cristo. Nesta consagração nos entregamos: nosso corpo, nossos bens exteriores, nossos bens interiores. Entregamos a Nossa Senhora tudo o que temos na ordem da natureza e da graça.
            Com a consagração passamos a fazer todas as nossas ações por Maria, com Maria, em Maria e para Maria, a fim de fazê-las mais perfeitamente por Jesus, com Jesus, em Jesus e para Jesus.  
            Parece algo contraditório, mas o que se comprova na prática é que este ato de consagração, através do qual clamamos a Maria que nos apresente a Jesus na qualidade de escravos, entregando à sua administração todos os possíveis méritos de nossos atos e orações, traz imensos frutos de libertação para nossa vida.
            A imensa graça deste ato de consagração tem arrebatado imediatamente a uns, que a fazem sem nada perguntar, outros querem ardentemente fazê-lo, mas surgem no seu coração certos temores, especialmente no que se refere ao seu papel intercessor: "Se fizer este ato de consagração, não poderei mais interceder especificamente por aqueles que me pedem orações? Não poderei oferecer por eles atos de sacrifício? Estarei me tornando escravo de Nossa Senhora ou de seu Filho Jesus? Entregarei meus méritos a Nossa Senhora ou a Jesus?"
            Isto não significa sermos impedidos de interceder por aqueles que nos pedem orações. Mas significa deixar que Deus tome inteiramente em suas mãos os resultados de nossos atos e orações, e o faça pelas mãos daquela que foi escolhida para que Jesus, fonte de toda graça, viesse habitar em nós e nos dar tudo o que somos, temos ou fazemos. Maria é a porta por onde recebemos Jesus e toda graça; é também a porta por onde devolvemos a Jesus o direito sobre tudo o que temos, somos e fazemos.
            Consagrar-nos a Jesus pelas mãos de Maria não é um favor que fazemos a Jesus, nem um sacrifício, mas uma grande bênção, um imenso dom, uma profunda alegria, e a restauração da consciência de uma verdade fundamental da nossa vida: somos dele, somos, portanto de sua e nossa Mãe, Maria!
            A nossa entrega a Maria precisa se efetivar na nossa vida através de atos concretos de humildade e vivencia do evangelho. Depois de nos consagrar a Jesus por intermédio dela, torna-se um absurdo ainda querermos fazer prevalecer nossa pessoa, nossas idéias, nossa vontade em qualquer situação da nossa vida diária.
            Se estivermos dispostos a abraçar esta grande graça de estar no lugar escolhido por Jesus e Maria nesta terra, vale a pena nos consagrar a Nossa Senhora. Mas se ainda desejamos conservar algum direito para nós nesta vida, nos preparemos melhor para viver esta devoção, porque ela envolverá desde as pequenas às grandes situações que encontraremos.
            Através daquela por quem veio a nós o Servo dos servos e foi a primeira a servir a Deus sem reserva, com a entrega total de sua vida, podemos nos consagrar, segundo a devoção ensinada por São Luís de Monfort, sabendo estar renunciando a todo pretenso direito, não só na outra vida, mas desde já, em cada situação do nosso dia-a-dia.
            Sabendo disto, como pode alguém que se consagrou a Jesus pelas mãos de Maria ainda exigir direitos, consolos, regalias, reparação de ofensas recebidas, considerações, atos de gratidão ou prevalência da sua opinião diante de alguém? Tudo isto, até somos capazes de sentir, porque somos humanos e tais desejos se levantam dentro de nós. Mas um consagrado a Jesus por Maria rejeita tais pensamentos e até os confessa se neles consentiu ou agiu.
            Submetamos a cada dia todos os nossos desejos aos de Jesus e Maria, de modo que se os nossos não forem conforme os deles possamos deixar que sejam aniquilados, e com eles todo egoísmo que nos separa de Deus, para chegarmos à união completa com Ele. E que o Senhor conceda mais e mais aos corações dos batizados o desejo de consagrar-se a assim a Jesus para sempre, pelas mãos de nossa querida Mãe!

domingo, 29 de abril de 2012

A CONSAGRAÇAO A NOSSA SENHORA

A CONSAGRAÇAO A NOSSA SENHORA

SEGUNDO SÃO LUIS MONFORT

Para a sua meditação neste mês de maio.

A Santa Escravidão a Jesus por Maria é uma prática de devoção antiguíssima, remontando aos primeiros séculos da Igreja. Com o passar dos séculos, experimentou uma admirável evolução, no sentido que cada vez melhor se compreendeu o que esta prática significava no contexto da fé. Passando pela escola francesa do século XVII do cardeal de Bérulle, Boudon, Olier, Condrem, São João Eudes, etc. Foi em São Luís Grignion de Montfort que a doutrina e a prática da Santa Escravidão encontrou sua expressão mais perfeita, sendo também, por meio deste grande apóstolo de Maria, que esta prática devocional tornou-se popular. A doutrina e espiritualidade da Santa Escravidão de Amor foram imortalizadas por São Luís Grignion, no célebre escrito: “O Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem”. Tal livro demonstra com muita sabedoria, clareza e unção quem é a Santíssima Virgem, qual é o seu papel na vida da Igreja e de cada pessoa em particular, com efeito o livro mostra a missão materna que Deus confiou a Santíssima Virgem, as razões e a maneira como Deus sujeitou a ela todos os corações, bem como, o papel da Santíssima Virgem no estabelecimento do reinado de Cristo e sua união íntima com o segundo advento de seu filho.
O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem foi escrito por São Luís Grignion de Montfort em 1712, e devido à grande força que esse escrito tem para levar as pessoas à verdadeira santidade foi fortemente combatido pelo inimigo infernal. O demônio quis verdadeiramente destruí-lo, mas Deus não permitiu, contudo, o inimigo escondeu este tratado durante cento e trinta anos. Tudo isso foi admiravelmente predito e escrito por São Luís, no próprio Tratado da Verdadeira Devoção onde narra: “Vejo animais frementes que se precipitam furiosos para destruir com seus dentes diabólicos este pequeno manuscrito e aquele de quem o Espírito Santo se serviu para compô-lo, ou ao menos para fazê-lo ficar escondido no silêncio de um baú a fim de que não apareça” (T.V.D. 112).
Assim, este livro escrito em 1712, desapareceu sendo reencontrado apenas em 1842 em um baú de livros velhos. Publicado em 1843 tornou-se leitura obrigatória de toda alma piedosa que buscasse a santidade. De fato, São Luís predisse o desaparecimento do livro, também, como o seu reaparecimento e o seu sucesso (c.f. T.V.D. 112), de modo que, depois que foi publicado o tratado, a Santa Escravidão tornou-se a via espiritual de muitos santos, que se fizeram escravos de Maria Santíssima, e na escola de seu Imaculado Coração aprenderam a amar a Deus e fazer sua santa vontade. Santos como: São João Maria Vianney, São João Bosco, São Domingos Sávio, Santa Terezinha, Santa Gema Galgani, São Pio X, São Pio de Pietrelcina e tantos outros santos e santas do nosso tempo, viram, na total consagração a Santíssima Virgem não uma “devoção qualquer” ou “mais uma devoção” mas uma Devoção Perfeita, aquela devoção querida por Jesus ao fazer de cada um de nós filhos de sua Mãe Santíssima.
Um dos maiores apóstolos desta consagração foi nosso querido Papa João Paulo II, que se fez escravo por amor quando ainda era seminarista. E de tal forma esta total consagração ordenou sua vida e missão que adquiriu como seu lema pessoal o “Totus Tuus Mariae”. João Paulo II foi um testemunho vivo da eficácia desta consagração na vida de uma pessoa.
 
1- O que é a Santa Escravidão de amor?
A total consagração à Nossa Senhora, ou a santa escravidão de amor é a entrega de tudo que somos e possuímos à Santíssima Virgem para que através dela possamos mais perfeitamente pertencer a Deus.
A finalidade desta total entrega a Nossa Senhora é nos unir a Jesus Cristo e nos fazer crescer em sua graça. Nos entregamos totalmente a Nossa Senhora para que ela nos ensine a cumprir em nossa vida a Santíssima vontade de Deus. São Luís Maria de Montfort chama a Santa Escravidão de Amor de “A Verdadeira Devoção”, simplesmente porque ela nos mostra quem é Nossa Senhora, qual seu lugar no plano de salvação e sua missão na vida da Igreja e de cada um de nós.
A doutrina da Santa escravidão nos faz ver e compreender que Jesus nos deu Maria como verdadeira mãe, mestra e educadora, e ao mesmo tempo nos convida e nos faz lançar aos cuidados desta boníssima Senhora atendendo ao mandato de Jesus que olhando para nós nos diz: “Eis aí tua mãe”. Assim pela total consagração de nós mesmos à Santíssima Virgem estamos dizendo nosso sim a Jesus que no-la deu por mãe, a fim de que Ela nos ensine a fazer tudo que Ele mandou.
Do ponto de vista pastoral a necessidade e eficácia da total consagração a Nossa Senhora são sempre atuais, uma vez que esta consagração e devoção não são mais que a perfeita renovação das promessas do nosso santo batismo. De fato os concílios assim como muitos Papas falaram sobre a necessidade de se recordar os cristãos os votos de seu batismo e de seu estado de pertença a Deus, assim pela Total Consagração, nós agora por nós mesmos, renovamos nossas promessas batismais, recuperando a consciência de nosso estado de pertença a Deus. Tudo isso através de Maria, como quer Jesus, para que Ela nos ensine a sermos fiéis a nossa adesão a Cristo bem como da renúncia de todo mal.
 
2- O que acontece conosco, quando nos consagramos como Maria, Escravos por Amor?
Nós confirmamos a soberania de Deus e da Santíssima Virgem em nossas vidas, entregando TUDO que somos e temos a Jesus pelas mãos de Maria. Aqui, TUDO quer dizer TUDO. Nosso corpo com todos os nossos bens materiais e nossa alma com todas as nossas riquezas espirituais, nossos pensamentos, nossos desejos e quereres. Assim, mesmo os méritos de nossas orações, sacrifícios e boas obras passam a pertencer a Maria Santíssima para que Ela possa usá-los como lhe aprouver. Pela Santa Escravidão de Amor passamos a não possuir mais nada. Tudo passa ser de Maria, para que deste modo tudo possa ser de Deus.
Quando fazemos esta consagração e a vivemos obtemos um aumento admirável em nosso “Capital de Graças”, e por isso nos santificamos mais rapidamente e de maneira mais perfeita e segura. Com efeito, Maria Santíssima é um caminho fácil, curto, seguro e perfeito para nos unirmos a Jesus e crescermos em sua graça.
Santo Agostinho, diz que Maria é o molde de Cristo (forma DEI). Por sua vez, diz São Thomas de Aquino, que a nossa vida cristã consiste em refazer em nós a imagem e semelhança de Deus perdida pelo pecado, ou seja, devemos nos tornar semelhantes a Jesus em nossa maneira de ser, pensar e agir. Devemos imprimir em nossa alma a fisionomia de Nosso Senhor, para amar como
Jesus amou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu...etc. Para isto nada mais oportuno do que esta consagração, uma vez que Maria Santíssima é o grande molde no qual foi formado Jesus. Assim, todo aquele que se lançar e desmanchar dentro deste molde sairá com as feições de Jesus. A consagração é a maneira pela qual nos lançamos neste molde perfeito e a vivência dessa devoção é a maneira pela qual nos desmanchamos no mesmo molde, ou seja quando nos entregarmos totalmente a Maria, Ela nos ensinará a ser, pensar e viver como Jesus.
 
3- Quem pode fazer esta total consagração, e como fazê-la?
Todos os que querem viver o seu batismo podem e devem fazer esta consagração, ou seja, todos os que querem ser santos, que acreditam em Jesus Cristo e em toda sua doutrina, tal qual, nos transmite a Santa Igreja. Quem faz restrições a doutrina de Jesus Cristo ensinada pela Santa Igreja, ou quem não pode (ou não quer) viver em comunhão eucarística não pode fazer esta consagração.
 
4 – Como fazer esta consagração?
Para se fazer esta consagração é necessário primeiro conhecê-la; lendo e estudando o Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, escrito por São Luís de Montfort, e outros livros que falem sobre a Santa Escravidão, como “O Livro de Ouro ao Alcance de todos” ouvindo palestras e participando de encontros e retiros sobre o tema.
Assim, após se ter consciência do que é esta Consagração e de como deve vivê-la pode se marcar uma data e fazer os exercícios preparatórios que durarão um mês. Estes exercícios são meditações diárias que podem ser encontradas no livro “Consagração a Nossa Senhora” de Dom Antônio Maria Alves de Siqueira.
 
A seqüência de preparação é a seguinte:
I - Doze dias preliminares- Para desapego do espírito do mundo a aquisição do Espírito de Deus. Onde se medita nossa vocação à santidade, desprendendo-se de tudo que possa nos atrapalhar a sermos santos para irmos para o céu.
II - Primeira semana- Para o conhecimento de si mesmo. Trata-se de um período para fazermos um profundo exame de consciência a partir do que devemos nos aperfeiçoar, buscando em tudo sermos agradáveis a Deus.
III - Segunda semana- Para o conhecimento da Santíssima Virgem, de sua pessoa, sua missão, das graças das quais Ela é repleta, de suas sublimes virtudes, de seus privilégios, etc. De forma que conhecendo-a melhor, possamos amá-la mais e honrá-la como Ela merece ser honrada.
IV - Terceira semana- Para o conhecimento de Jesus Cristo nosso Fim Último, nosso Grande Deus e Senhor. Aqui devemos meditar no Mistério da vinda, da vida, paixão, morte e Glorificação de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Devemos contemplar a encantadora vida de Jesus, sua pessoa e sua doutrina, para que assim possamos crer nele com profunda convicção, amá-lo com amor abrasado, de forma, a despertar em nós um grande desejo de fazê-lo conhecido, amado e adorado, por todos.
 
Durante esta preparação de um mês (ou 33 dias), faz-se uma confissão geral e no dia escolhido (de preferência uma festa Mariana) participasse do Santo Sacrifício da Missa e se recebe Jesus no Santíssimo Sacramento. Depois da Ação de Graças (e como Ação de Graças) se recita a fórmula da Consagração que deve estar previamente copiada (de preferência de próprio punho) e se assina. Quando o sacerdote tem conhecimento da consagração e apóia, pode-se pedir que ele assine a folha como diretor espiritual e abençoe as correntes (se forem ser utilizadas).
 
5- Como deve viver um consagrado e quais suas obrigações?
Prática interior – O essencial desta devoção consiste em fazer todas as coisas por Maria, com Maria, em Maria e para Maria, para mais perfeitamente fazê-las por Jesus, com Jesus, em Jesus e para Jesus. Viver num estado de abandono e confiança para com Nossa Senhora, confiando a ela todas as nossas necessidades, problemas, sofrimentos, alegrias, decisões, negócios... etc. Como uma criança pequenina, segurar nas mãos desta boa mãe e deixar-se conduzir por ela. Em tudo recorrer a Ela. Fazer tudo do jeito dela. Louvar a Deus e adorá-lo com o coração dela.
Práticas exteriores – Também devemos cantar as glórias de Maria, honrá-la com todo amor, anunciando sua dignidade e seus privilégios, ensinando a todos e em todo lugar o que é a verdadeira devoção a Ela.
Devemos contemplar os mistérios do Santo Rosário, participar de suas festas, inscrever-se em suas confrarias, fazer e renovar sempre a Consagração a Ela e levar as pessoas a fazerem o mesmo. Usar as pequenas cadeias de ferro ou correntes como sinal de nosso amor e de nossa consagração, etc. É preciso entretanto observar que estas práticas não são essenciais, mas são utilíssimas para exteriorizar nosso amor a Jesus e Maria e edificar nosso próximo.
 
6- A difusão e a prática generalizada da Santa Escravidão de Amor levará ao Triunfo da Santíssima Virgem, e ao reinado de Jesus.
Por fim, é importante lembrar que a Santa Escravidão de Amor, no pensamento e na doutrina de São Luís de Montfort, não é “mais uma devoção”, e muito menos “uma devoção qualquer”, é sim, o meio que a providência divina escolheu para estabelecer no mundo o triunfo de Maria e em conseqüência o reinado de Jesus. Se, portanto queremos que venha logo o prometido Triunfo do Coração de Maria e o Império de Jesus sobre toda humanidade, procuremos todos fazer, viver e propagar a Santa Escravidão de Amor.
 


HOMÍLIA DA MISSA DO TERÇO DOS HOMENS EM LAGOA SECA

HOMÍLIA DA MISSA DO TERÇO DOS HOMENS EM LAGOA SECA
João Paulo II no Ano do Rosário (de Outubro de 2002 à Outubro de 2003), acrescentou ao Santo Rosário a contemplação dos Mistérios da Luz, onde se acompanha Nosso Senhor Jesus Cristo desde o seu batismo no Rio Jordão até a instituição do Santíssimo Sacramento.
Sabemos do sentido profundamente bíblico do Terço, mas quero acompanhar nas diversas aparições de Nossa Senhora o seu apelo a oração tão querida e tão recomendada por Ela.
Em Lourdes (França), onde em 1854 a Santíssima Virgem apareceu à Santa Bernadete, ela trazia nas mãos um Rosário com as contas cor de ouro, e pedia: "Reza pelos pecadores, pelo mundo tão revolto." Estas aparições foram oficialmente aprovadas pela Santa Igreja.
Em suas aparições de Fátima (Portugal, 1917), também oficialmente reconhecidas pela Santa Igreja, a Santíssima Virgem pediu: "Rezai o terço todos os dias, para alcançar a paz para o Mundo e o fim da guerra."
            Também em suas manifestações em Akita (Japão, 1973), também oficialmente reconhecidas pela Santa Igreja, revelou: "As únicas armas que nos restarão então serão o Rosário e o Sinal deixado pelo Meu Filho. Rezem cada dia as orações do Rosário. Com o Rosário, rezem pelo Papa, pelos Bispos e pelos sacerdotes. (...) Reze muito as orações do Rosário. Eu sozinha ainda sou capaz de salvar vocês das calamidades que se aproximam. Aqueles que colocarem sua confiança em mim serão salvos." (13/10/1973)
            Também no Brasil falou à Santíssima Virgem em suas aparições em Congonhol-MG (1987-1988), em mensagens com aprovação expressa para divulgação por parte do Bispo Local (o saudoso Dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho): "O Rosário que você reza com a comunidade é milagroso. Avisa para colocarem seus pedidos sobre o altar." (03/08/1987) "Coloque o Terço na mão. Tudo se consegue com o Terço na mão." (07/09/1987) "Estou inquieta em ver tantos filhos meus que caminham para a perdição. (...) Rezem todos os dias o Rosário para que Jesus tenha compaixão deles e que possam se salvar também." (23/09/1987)
            Já Nosso Senhor, falando à Irmã Amália, religiosa estigmatizada brasileira (Campinas-SP, à partir de 1930), revelou em mensagens com aprovação expressa para divulgação por parte do Bispo local (o saudoso Dom Francisco de Campos Barreto): “Amados filhos que todos os dias repetis com amor a Ave Maria, a saudação à Virgem. (...) Amados filhos, se pudésseis ver como os anjos saúdam Maria no céu; com amor, reverentes e em santa alegria aos seus pés se colocam para cumprir as ordens da Mãe amável. Maria quando recebe veneração e homenagem, imediatamente olha para vós que ainda estais na terra, e diz: “Se todos os meus filhos me louvassem com a Ave-Maria, nenhum deles se perderia!”. Porque quem saúda Maria com a Ave-Maria, predispõe o seu coração para receber o derramamento de minhas graças. Maria é cheia de graça, porque foi escolhida para ser minha Mãe, portanto tem nas suas mãos os tesouros do Paraíso, dos quais pode dispor em vosso benefício. Mas se recebeis pouco, quando dizeis a Ave-Maria, é porque rezais sem atenção. Não é a quantidade que agrada a Maria, mas sim a qualidade. (...) Filhos, se pudésseis compreender o valor desta saudação bem rezada! Aproveitai! Não desperdiceis vosso tempo e rezai bem! Se assim fizerdes, na hora da vossa morte estareis repletos de graças, para poderdes entrar na vossa pátria, que é o Paraíso. (...) Na verdade, Ela tudo pode, porque tem nas suas mãos os tesouros de meu Coração, e é a distribuidora de meus dons divinos. Se alguém desejar receber prontamente, peça-me por Maria, porque é por meio dela que dou em abundância meus tesouros. Foi por meio de Maria, que desci ao mundo e vos abri as portas do Paraíso. É por Maria que dou às almas de boa vontade o que me pedem. Vinde, porque Ela vos conduzirá a Mim! Amados filhos, animo-vos a rezar bem a oração angélica, que poderia se chamar saudação divina, porque toda ela foi ditada pelo nosso amor. Vinde a Ela com confiança e amor, por meio desta belíssima oração, composta pela Trindade, para saudar a nossa amada, Maria. Rezai com amor, alegria e com confiança filial a oração angélica. Tereis o meu Amor nos vossos corações." (19/08/1931).
Na Itália em Montiquiari Nossa Senhora Rosa Mística falou pra Pierina:  “Rezai o santo terço! Filha, eis o santo Rosário! Todos quantos o rezarem alcançaram de mim inúmeras graças. Ele é um forte vinculo a prender-vos em meu Coração. Ele glorifica o Senhor, rei do céu e da terra. Fiquem os meus devotos, a saber, que é preciso expiar os muitos pecados feitos contra o meu divino Filho Jesus Cristo. Meus filhos, amai-vos uns aos outros! Amor a Deus e amor ao próximo! A oração é amor que sobe ao céu. Desejo que os meus filhos o compreendam para se realizar o que eu digo. Sobre todos desça a benção do Senhor. Rezai o Santo Rosário”.
“Um terço bem rezado devotamente é um penhor para qualquer intercessão; é a contemplação dos mistérios da fé. O Pai Nosso é a prece da união. A prece do Senhor. O Glória é a prece da glorificação da Santíssima Trindade. Diz aos Meus filhos que rezem o santo terço, elo de fé e de luz e vinculo de união, de glória e de bem aventurança”.
“Reza, minha filha; reza e faz rezar. Tantos dos meus filhos vivem nas trevas! Já não se quer a Deus. Oh! em que luta se acha a Igreja do meu Filho! Por isso, estendo Eu o manto da minha predileção sobre a humanidade, por que há urgência de oração de amor e prece de expiação... A humanidade corre o risco para a sal grande ruína... Quantas almas perdidas!... Pobre Igreja do meu Divino Filho Jesus Cristo! Orai, ó filhos, fazei penitência... Este é o meu apelo vivo, a advertência da Mãe do Senhor”.
“Minha filha esta é a hora em que é preciso que vos unais em oração e caridade, em torno do Senhor. É abandonado e ultrajado por tanto dos seus filhos. Queremos almas fortes e generosas, prontas a dar testemunho e a demonstrar que o meu Divino Filho se imolou na cruz; compreenda cada um quanto e como o Coração de Jesus está cheio de amor e de misericórdia. Vim aqui para falar do amor que a Deus é devido; para instigar as almas a este amor a Deus e ao próximo. Eis o meu apelo, esta a mensagem da Mãe do Senhor”.
“Convido-vos ainda ao Santo Rosário, que é tão bem aceito pelo Senhor. Saibam-no todos os meus filhos que acudiram ao meu pedido com a comunhão reparadora, que eu lhes pagarei com enorme abundância de graças... diz que rezem o santo rosário. Eu mesma descerei do céu com os anjos para ofertar ao Senhor esta oração... quantas graças serão concedidas! Eu vejo e abençoo a todos”.
“Eu sou Maria, a Mãe da Igreja. Por esta Igreja, pelo Santo Padre, pelos sacerdotes e por todos os filhos da Igreja suplico oração, oração, a fim de que regresse aos corações o verdadeiro amor a Deus e a verdadeira caridade. Invocai especialmente a proteção do arcanjo São Miguel, para que guarde a Igreja de todas as insídias ameaçadas e a defenda. De fato, jamais a Igreja se viu em perigo tão grande como o de hoje. Rogo por ela continuamente. Também deste lugarzinho se difundirá luz. Já falei ao coração dos meus filhos diletos e incentivei-os a serem de novo arautos do meu amor, da minha mensagem, da caridade. Sempre me acho perto deles para os fortificar com a  graça do Senhor, mas diz-lhes também que rezem ainda mais com amor, se sacrifiquem e reparem”.
Diante de tudo isso, fica claro que o Santo Rosário depois da Santa Missa é uma das orações mais queridas por Nossa Senhora e a que melhor toca no coração de Deus.

sábado, 7 de abril de 2012

A DEVOÇÃO A MARIA SANTÍSSIMA

A DEVOÇÃO A MARIA SANTÍSSIMA
O nosso relacionamento, a nossa intimidade com Maria é essencialmente filial. O vínculo filiação-maternidade “determina sempre uma relação única e irrepetível entre duas pessoas: da mãe com o filho e do filho com a mãe”. E a medula desse vínculo, evidentemente, é o amor.
Por isso, só perguntando-nos pelas características que tornam autêntico esse amor é que descobriremos os traços da verdadeira devoção a Maria Santíssima. Com isso, perceberemos também melhor o que Deus quis que representasse para nós o imenso dom que nos fez, dando-nos Maria como Mãe.
Comecemos pelos aspectos dessa devoção que se nos impõem de maneira mais imediata. Um cristão que vive de fé sabe que Maria o ama e o auxilia com carinho de Mãe. Sabe-a voltada maternalmente para ele. É natural que, dessa certeza, flua espontaneamente uma sincera afeição filial. “Nada convida tanto ao amor – comenta São Tomás – como a consciência de sentir-se amado”(Cf. São Tomás de Aquino, Summa contra gentes, IV, XXIII). A devoção mariana manifesta-se, por isso, em mil expressões, delicadas e fervorosas, de carinho de filho: no tom afetuoso da oração que dirigimos a Ela, na alegria de visitá-la nos lugares onde se quis fazer especialmente presente, nos muitos pormenores íntimos do coração, que o pudor vedaria externar.
Juntamente com esse afeto filial, e impregnando-o intimamente, brota também espontaneamente um sentimento de profunda confiança. “Nunca se ouviu dizer – reza uma bela oração atribuída a São Bernardo – que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado”.
Esta certeira confiança dos fiéis exprimiu-se num leque multicolorido de invocações marianas, que traduzem a segura experiência do coração cristão: Mãe de misericórdia, Virgem poderosa, Auxílio dos cristãos, Consoladora dos aflitos, Onipotência suplicante… Era essa a confiança que fazia Dante escrever estes preciosos versos: Donna, se’ tanto grande e tanto vali, / che qual vuol grazia e a te non ricorre, / sua disianza vuol volar sanz’ali; “Senhora, és tão grande e tanto podes, que para quem quer graça e a ti não recorre, o seu desejo quer voar sem asas” (Divina Comédia, Par. XXXIII, 13-15).
Amor e confiança. Trata-se de sentimentos com fortes raízes no coração. Ora é bem sabido que os afetos do coração possuem muitas vezes uma sutil ambivalência: são sentimentos que a custo se equilibram na difícil passarela onde o amor beira sempre o egoísmo. Não é raro que os muito sentimentais sejam também muito egoístas.
Por isso, se a devoção a Maria não estivesse fundamentada nos alicerces da fé – da doutrina – e da caridade, poderia deslizar imperceptivelmente para os declives do egoísmo. Tal coisa aconteceria no caso de uma devoção meramente sentimental – não animada por desejos de entrega e de amor operante – que, embora cheia de efusões de ternura, não incidisse fortemente na vida para modificá-la. Mais facilmente ainda se daria essa deturpação se a devoção mariana se reduzisse a um simples recurso para alcançar uma “proteção” ou uns “favores” meramente interesseiros.
Esses desvios, contudo, não se darão se o nosso amor filial a Maria entrar, como deve, em sintonia com o seu amor maternal.
Pensemos que o coração da nossa Mãe, “cheia de graça”, é uma fornalha ardente de caridade, de amor a Deus e aos homens. Nele se encontra, em medida quase infinita, a caridade derramada pelo Espírito Santo (Cf. Rom 5, 5).
Isto significa que quem se aproximar dEla com um coração reto e sincero se sentirá necessariamente impelido para o amor a Deus e ao próximo. Este é o segredo divino da devoção a Maria. Foi de fato para nos facilitar a entrega a esse duplo amor – o mandamento que resume todos os outros – que Deus, em sua misericórdia, quis dar-nos Maria como Mãe.
É por isso que a devoção a Maria, bem vivida, é sempre como um sopro – fecundo, cálido e suave – que acende o amor na alma, inflama a generosidade e move a abraçar sem reservas a vontade de Deus.
“Se procurarmos Maria, encontraremos Jesus”, diz São Josemaria, fazendo-se eco da tradição cristã (É Cristo que passa, n. 144). No fundo de tudo o que a Virgem Santíssima sugere ao coração dos homens, sempre pulsam as suas palavras em Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. A verdadeira devoção é, por isso, radicalmente “cristocêntrica” – conduz a Cristo –, é “teocêntrica” –leva para Deus. Nossa Senhora vive e faz viver em função de Jesus. Não pode haver aí nem sombra de “idolatria”.
Ao mesmo tempo, é claro que, se Maria nos leva a Jesus, indefectivelmente nos aproxima também dos nossos irmãos, que são irmãos de seu Filho e filhos dEla. Ela é a Mãe comum que nos faz sentir fraternalmente vinculados em Cristo, membros da família de Deus (Cf. Ef 2, 19), e nos desperta na alma ânsias de doação e de serviço aos outros. O Coração de Maria infunde calor e força ao amor dos irmãos.
Como vemos, se a Virgem Santíssima nos auxilia – e esta é a sua missão maternal –, é única e exclusivamente para nos colocar mais plenamente em face das exigências da nossa vocação cristã. É com este fim que Ela intercede por nós junto de Deus e distribui as graças que o Senhor colocou em suas mãos. Mesmo os favores maternos que Ela nos obtém em pequenas coisas – como em Caná – são incentivos de carinho que nos ajudam a agradecer e a retribuir a Deus as suas bondades. Em qualquer caso, Ela estende a sua mão para nos elevar – suave e fortemente – até à meta da nossa vocação cristã, que é a santidade.
Com razão se pode afirmar, por isso, que o amor de Maria por seus filhos é simultaneamente doce e exigente. “Nossa Senhora, sem deixar de se comportar como Mãe, sabe colocar os seus filhos em face de suas precisas responsabilidades. Aos que dEla se aproximam e contemplam a sua vida, Maria faz sempre o imenso favor de os levar até a Cruz, de os colocar bem diante do exemplo do Filho de Deus. E nesse confronto em que se decide a vida cristã, Maria intercede para que a nossa conduta culmine com uma reconciliação do irmão menor – tu e eu – com o Filho primogênito do Pai” (São Josemaría Escrivá, ib., pág. 195).
A Jesus “se vai” por Maria, e a Jesus “se volta” por Ela, diz Caminho (n. 495). Quando, ao rezar a Ave-Maria, nós lhe pedimos “rogai por nós, pecadores”, fazemo-lo com a consciência de que demasiadas vezes nos afastamos de Deus e, como o filho pródigo, precisamos voltar para a casa do Pai.
Maria torna suave, também, e esperançado esse retorno. Não é verdade que, perto da Mãe, nos tornamos a sentir crianças? Despojamo-nos da nossa triste armadura de adultos, forjada pelo orgulho, pela vergonha ou pela decepção. E então o fardo das nossas misérias já não nos esmaga. Com Maria, sentimo-nos crianças reanimadas pela ternura da Mãe, alegres por descobrir que, para um filho pequeno, sempre é possível levantar-se, sempre é possível recomeçar, sempre é hora de esperar. Ela é a porta perpetuamente aberta na Casa do Pai.
A Estrela da manhã, a Estrela do mar, a nossa Mãe, guia-nos por toda a estrada da vida, passo a passo, na bonança e na tormenta, nos avanços e nas quedas, até alcançarmos o repouso definitivo no coração do Pai. Nunca percamos de vista que “foi Deus quem nos deu Maria: não temos o direito de rejeitá-la, antes pelo contrário, devemos recorrer a Ela com amor e com alegria de filhos” (São Josemaria Escrivá, É Cristo que passa, n. 142).
Intensifiquemos o empenho de amor e os pormenores de delicadeza para com a nossa Mãe nas festas e tempos que a Igreja dedica especialmente a Ela: mês de maio, Solenidade da Assunção de Maria, Novena da Imaculada Conceição, etc. Renovemos, com forte vitalidade, essas devoções – sempre unidas à recitação amorosa do Rosário – que, por Maria, nos levarão bem dentro do Coração de seu Filho Jesus.